Título: A ESCOLHA
Autor: xxx
Ano:1980
A ESCOLHA

O Dickie tinha um problema. Era mesmo um grande problema para um rapaz de doze anos. Ele ia calmamente a passar pelo edifício do Banco duma pequena cidade da fronteira, ia demasiado abstraído para reparar nas vozes ásperas que vinham lá de dentro, com uns tons tensos e disfarçados.
O Dickie foi ao Standish's General Store, matutando no seu problema. Era o dia de anos dele. A mãe tinha-lhe dado dez cêntimos para que ele os gastasse na cidade naquilo que quisesse. Todos os dez cêntimos só para ele.
O Dickie ia imediatamente comprar doces. Mas que espécie de doces? Esta é que era a parte mais difícil!
Chegado à loja, Dickie percorreu com os olhos as tentadoras guloseimas que estavam na montra. A sua boca ficou aguada quando viu a etiqueta com o preço, um chupa-chupa de tamanho gigante, e de vários sabores, que só custava dez cêntimos.,. Era aquele mesmo. Ele já o tinha antes.
Mas o rapaz hesitou. Não seria antes melhor comprar "quebra-maxilas", que eram uns caramelos redondos e muito duros, qua até pareciam mármore? Eram os mais baratos. Assim já poderia levar um grande saco cheio deles e reparti-los com os seus irmãos mais novos, em vez de estar a comprar o chupa-chupa tamanho gigante só para ele.
Mas afinal não era o dia de anos dele? Não era o dinheiro dele? Porque é que ele havia de ser tão pouco egoísta e estar a pensar neles? Porque é que não haveria de fazer aquilo que realmente queria?
O Dickie ainda tentou pedir o maravilhoso chupa-chupa gigante, mas lembrou-se da cara tristonha e chorosa dos seus irmãos se, quando chegasse a casa, não lhes levasse nada.
"Dez cêntimos de "quebra-maxilas", murmurou o Dickie, sentindo-se, mesmo assim, levado.
Segurando no seu saco cheio de caramelos redondos, Dickie, ao passar pelo banco outra vez, quase que ia engolindo o caramelo de limão que tinha na boca. Vozes rudes vinham do Banco.
"Eles já estão todos amarrados"!
"Apanha o dinheiro e vamo-nos embora daqui"!
"Depressa! É a melhor altura agora! Não está ninguém na rua à excepção daquele miúdo"!
Um assalto ao Banco!
O Dickie engoliu em seco. O que é que ele havia de fazer? Enquanto ele fosse a correr ao escritório do xerife lá longe, ao fundo da rua, os bandidos teriam mais do que o tempo para fugirem. Eles deviam estar a sair a qualquer momento, para se dirigirem para os seus cavalos que estavam atados do outro lado da rua.
O Dickie teve então uma ideia. Parou por um momento como se estivesse a apertar os atacadores. E então, para que os bandidos não suspeitassem, afastou-se muito devagar do Banco. Mas, assim que estava fora das vistas dos bandidos desatou a correr com todas as suas forças para o escritório do xerife, contando-lhe então tudo o que vira e ouvira.
O xerife Colby saiu disparado pela porta fora, dirigindo-se para o seu cavalo, mas já com poucas esperanças de os apanhar. "Se eles já estavam prontos para sair quando eu lá chegar já lá não estão".
Mas o xerife estava enganado. Ele aproximou-se do Banco mal acreditando no que viam os seus olhos. Três homens estavam estendidos no chão, a praguejar. As suas armas e os sacos do dinheiro do Banco estavam espalhados pelo chão. Um dos bandidos esforçava-se por se pôr em pé e fugir, mas as botas dele pareciam fugir-lhe debaixo dos pés. E ele caiu com um baque surdo, gemendo.
"O que é que raio lhes aconteceu"? Gritou o xerife. "O que é que os fez cair desta maneira, quando eles iam a sair a correr ainda à bocado"?
"Creio que foi isto", exclamou o Dickie, que tinha aparecido a correr. Ele segurava nas mãos um saco de papel vazio. "Os meus caramelos "quebra-maxilas". Eu espalhei-os do lado de fora da porta do Banco. Pensei que eles haviam de vir a correr tão depressa, que ao tropeçarem nisto haviam de cair".
"E conseguiste-o", disse o xerife, enquanto que com a sua arma cobria os três desorientados bandidos. "Vou-te comprar mais dôces, Dickie.— Todos os que tu quiseres. Fizeste um bom trabalho com esses caramelos, conseguiste deter estes "fora-da-lei". Deves estar orgulhoso de ti mesmo.
O Dickie estava-o, mas não era por ter conseguido deter os bandidos. Ele estava orgulhoso mas era porque na loja dos dôces ele tinha feito a escolha certa.
A escolha desinteressada, a que não era egoísta.
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