quinta-feira, 9 de março de 2017

CONTOS: Um Homem do Oeste

História retirada da revista "MUNDO DE AVENTURAS — 367"
Título: UM HOMEM do OESTE...
Autor: ORLANDO MARQUES
Ano:19xx

GIBBONS, o atleta, soltou mais uma gargalhada estrepitosa, sacudindo tronco espadaúdo, enquanto se reclinava na cadeira, que rangeu sob o seu respeitável peso.

E, meio sufocado ainda pelo riso, fitou os companheiros sentados em redor da mesa de jantar do Rancho de Hoot-Pass, balbuciando:

— Eh! Rapazes! Que ridículo! Sam Earp é capaz de domar esse búfalo infernal que parece irmão do diabo! Ah! Ah! Não repitam a graça! Se calhar, esse «pessegote» só sabe manejar um revólver... de chocolate... Ah! Ah! Não pensem nisso, rapazes!

E Gibbons voltou a rir estrondosamente, apoiando as mãos no ventre saliente.

— Está bem! — disse um dos presentes. — O rapaz está cá há pouco tempo e nós mal o conhecemos... mas o patrão parece gostar dele e afigura-se-me que é moço decidido.

O vaqueiro que falara piscou o olho para os circunstantes e acrescentou, maliciosamente, olhando Gibbons de soslaio:

— Tu não foste capaz de vencer esse diabólico animal! Como todos os que tentarem subjugar o «Diabo da Pradaria», foste atirado de cabeça ao chão...

Gibbons fez-se bruscamente sério e lançou um olhar furibundo para o outro.

— Serei, talvez, um bocado pesado para a tarefa... ou talvez tivesse empregado mal a minha força. Mas, por tudo, garanto-lhes que ainda hei-de dominar o «Diabo da Pradaria»! Terá que roçar-se aos meus pés como um cordeiro!

Os seus olhos duros tiveram um brilho metálico e um sorriso, que mais parecia uma careta, enrugou-lhe os cantos da boca.

— Antes disso, porém, quero ver o «novato» em acção no seu primeiro exame: Sam Earp a tentar dominar o «Diabo da Pradaria»!...

E de novo uma gargalhada estrondosa rematou as suas palavras.

Foi nesta altura que uma voz calma e firme soou ao fundo da sala. obrigando Gibbons a conter-se nas suas explosões de ironia:

— Muito bem, Mr. Gibbons, vou imediatamente satisfazer os seus desejos, tentando dominar o «Diabo da Pradaria». Rapazes! A caminho! Para o vale!

Fora Sam Earp quem falara.

Já no alto das montanhas que dominavam o verdejante e profundo vale onde Sam devia prestar a sua prova, a sua primeira e duríssima prova que o habilitaria ou não ao desempenho das árduas tarefas que o esperavam na vida do Rancho, Gibbons, o atleta, ladeando o proprietário da herdade e os vaqueiros, ria com prazer, saboreando já o espectáculo divertido que ia iniciar-se. E, de súbito, à entrada do vale que formava como que uma espécie de anfiteatro cercado de íngremes rochedos, a manada de búfalos surgiu como um furacão, chefiada pelo «Diabo da Pradaria», que corria, na vanguarda, de cabeça baixa, enorme, possante, ameaçador.

Sam Earp, montado num belo cavalo negro, galopava entre a manada, e a sua aparição foi saudada pelos companheiros do Rancho com brados de entusiasmo.

Gibbons soltou, então, a mais potente gargalhada do seu reportório, não refreando o desdém que o dominava.

O proprietário do Rancho teve um brado forte de incitamento, sem desviar os olhos de Sam. em baixo, no vale:

— Avante, meu rapaz! Mostra a tua garra! Avante!

Como se tivesse ouvido estas palavras, Sam obrigou o cavalo a desviar-se do centro da manada e, correndo, isolado, a par dela, lançou-se em desenfreada cavalgada ao encontro do «Diabo da Pradaria».

A pouco e pouco foi ganhando terreno.

O búfalo gigantesco, pressentindo-o, baixara ainda mais a cabeça e acelerara também a corrida, rugindo forte e levantando sob as patas poderosas grandes nuvens de pó.

Mas Sam, incitando o cavalo constantemente, conseguia ver reduzida a distância que o separava do adversário.

De súbito, ergueu-se sobre a sela em equilíbrio perfeito, e por momentos ficou de pé, braços bem abertos, firmando bem os pés.

A corrida continuava em ritmo vertiginoso e infernal...

O «Diabo da Pradaria» estava, finalmente, ao seu alcance. Então Sam pulou no espaço, num salto elegante e felino, caindo sobre o lombo do búfalo.

Ao sentir o contacto indesejável do inesperado cavaleiro, o enorme animal deu um esticão brusco para um dos lados, desviando-se da manada, que, entretanto, prosseguia na sua marcha irresistível até desaparecer no outro extremo do vale.

A fera deixara de correr e agitava-se agora da direita para a esquerda e vice-versa, rugindo, sacudindo-se com fúria, na mira de libertar-se do fardo que suportava.

Mas Sam agarrara-se-lhe bem ao lombo saliente com a força do desespero, olhos cerrados para a vertigem o não vencer.

Decorreram assim dois, três minutos.

Na encosta do vale, Gibbons substituirá, pouco a pouco, as suas gargalhadas desconcertantes por uma expressão séria e perturbada.

Á sua volta, os vaqueiros e até o próprio proprietário do Rancho, soltavam brados irreprimíveis de entusiasmo, agitando os largos chapéus por cima das cabeças.

O rosto de Sam, pelo violento esforço despendido, tinha agora a cor do lacre, mas os seus braços não afrouxavam um milímetro que fosse, bem seguros ao animal, e os seus lábios mantinham-se cerrados, contraídos, numa expressão indomável.

«O Diabo da Pradaria» lutou ainda algum tempo, sacudindo violentamente o tronco, rugindo de cólera...

Por fim, estacou, arquejante, olhos salientes e raiados de sangue, a cabeça descaída, sem aquela pujança e vigor que se lhe conhecia.

Então, o seu corpo rolou pesadamente no solo, como uma massa. Estava vencido! Os braços de Sam ergueram-se para os companheiros, saudando, de longe, os seus brados de vitória. Era um saboroso triunfo aquele que obtivera no primeiro exame!

Ao vê-lo aproximar-se, Gibbons, em atitude provocante, cuspiu para o solo, mas, em resposta, Sam aplicou-lhe um violento soco na ponta do queixo, que o deitou por terra.

— Aí está a segunda prova do meu exame, Mr. Gibbons! — bradou o rapaz. — Espero que a partir de hoje tenha menos arrogância e mais respeito pelos outros!

Erguendo-se sobre os cotovelos, o atleta viu Sam afastar-se com o patrão e os vaqueiros, enquanto dava uma massagem no queixo dorido. E monologou entre dentes:

— Forte e rijo como o aço, o diabo do rapaz! Um verdadeiro homem do Oeste...

FIM

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