Título: FACA DE MATO
Autor: Desconhecido
Ano:1955
Toda a gente o conhecia por «Faca de Mato». Se alguma vez chegara a ter um nome de jeito, já o haviam esquecido. Só a sua extraordinária habilidade com a faca de mato estava bem presente na memória de todos. Dizia-se mesmo que podia furar uma moeda de cinquenta cêntimos a uns vinte metros de distância. Por isso lhe chamavam «Faca de Mato».
Tinha chegado a Wagon Pass havia seis meses e, no entanto, o que se sábia a seu respeito poderia ser escrito num selo de correio. Nunca se falava dele. Mas o que o tornava realmente notado naquela comunidade, é que nunca trazia pistolas. À cintura, em vez das balas e dos revólveres, pendia uma navalha; e aqueles que se julgavam bem informados, juravam que, debaixo da jaqueta, se encontravam ainda numerosas facas escondidas.
«Faca de Mato» era de baixa estatura; ninguém, em Wagon Pass, vira jamais um sorriso naquela cara taciturna. Frequentava assiduamente o Café Pepita de Oiro, não para beber, mas para jogar.
★
Naquela noite, depois de várias horas em que perdera continuamente, Doc teve uma explosão de raiva. Olhou ferozmente para «Faca de Mato», no outro extremo da mesa, e acusou:
— Trapaceiro!
Doc fora um dos primeiros a vir para Wagon Pass e sabia perfeitamente o que significava a sua acusação: ou o outro se ria, sem ligar nenhuma, ou então havia luta! Por isso, depois de acusar o seu adversário, levou rapidamente a mão ao cinturão. Mas, antes que os seus dedos pudessem segurar bem na arma, esta caiu-lhe da mão, enquanto uma mancha de sangue surgia no seu braço.
— Hei-de apanhar-te um dia!— gritou Doc segurando o braço, tentando fazer parar a hemorragia.
— Tiveste sorte! — respondeu indiferentemente «Faca de Mato». — Se um homem que não estivesse embriagado como tu me chamasse trapaceiro, não lhe teria acertado só no braço...
— Bandido! Pati... — começou Doc; mas os outros apressaram-se a levá-lo dali.
O jogo de cartas estava, assim, acabado, e «Faca de Mato» saiu do Café. Levava os bolsos cheios do oiro que ganhara.
Depois de ter entrado para o seu velho carro, um dos jogadores dirigiu-se para o bar:
— Vocês acham, realmente, que ele faz batota?
— Não! — respondeu outro. — Joga bem, com muita sorte, e é tudo! Doc é que não soube perder. O que lhe valeu foi o «Faca de Mato», não se ter zangado!
— Tens razão! — concordou o primeiro. — Uf! Juro-vos que não o vi puxar da arma. Deu-me a sensação da faca se ter soltado do cinto e ter voado sozinha! Uf!
— Ora! Doc há-de vingar-se, vocês verão! — disse um homem que estava no outro extremo do bar.
Todos se voltaram para ver quem falava. Um dos jogadores soltou uma risada:
— E Piggy que não viesse em defesa do seu irmãozinho!
— Doc é apenas meu irmão consanguíneo! — lembrou Piggy.
— E isso que tem? Desde quando te mostras tão amigo do teu irmão? Todos nós sabemos que o odeias, por vosso pai, quando morreu, lhe ter deixado o rancho e todo o dinheiro.
— Não digas isso! — respondeu Piggy. — Foi apenas uma pequena zanga de família. Hoje em dia seria capaz de dar a minha vida peia dele! Por isso, não admito que digam mal do meu irmão!
A conversa morreu no meio dum sussurro geral. E Piggy saiu, sorridente, do Café Pepita de Oiro.
★
O sheriff andava atarefadíssimo. Não era o que se podia chamar um homem de acção. Preferia ir sentar-se na botica e conversar sobre política.
Mesmo no momento em que se preparava para fazer a sesta, tinham-lhe vindo comunicar que Doc jazia no meio da estrada, perto da povoação, com uma navalha nas costas. Doc morto!
O sheriff olhou para o corpo atentamente. Já alguns curiosos se tinham juntado em volta do cadáver. Um deles observou;
— Teve morte instantânea!
— Não me parece! — contrariou o sheriff, — Ora vejam: ainda teve tempo de escrever qualquer coisa na terra!
Os outros olharam. Perto da mão direita do morto via-se desenhada qualquer coisa que, à primeira vista, parecia um parafuso. Não havia dúvidas que, antes de morrer, Doc tentara identificar o seu assassino. Qual seria o significado daquele sinal?
Ofegante, como se tivesse vindo a correr, Piggy chegou ao local do crime.
— Foi o «Faca de Mato» — gritou ele. — Mas será castigado pelo que fez.
—Você é Piggy, o «Porquinho», como lhe chamam, não é verdade? E era irmão consanguíneo de Doc? — perguntou o sheriff, calmamente.
— Sim, Doc era meu irmão. Éramos unha com carne. Faça o teu dever, Sheriff, e prenda o assassino.
— Não se preocupe — respondeu o representante da lei. — O assassino será preso imediatamente. Prendo-o a si por ter morto o seu irmão!
Por um instante, Piggy, «o Porquinho», quedou silencioso, com uma expressão de espanto no rosto. Depois, com uma agilidade que ninguém suspeitaria naquele corpo tão pesado, puxou da faca e avançou para o sheriff ameaçadoramente:
— Serás o primeiro a morrer, se tentares impedir a minha fuga!
Muitos anos passados sobre esta cena, ainda todos os presentes se lembravam da reacção do sheriff a está ameaça. Com a rapidez de um raio, apesar dos seus cinquenta anos, deu um pontapé no braço do bandido, fazendo voar a arma para longe. Depois, o seu punho direito descreveu um arco, indo atingir com violência o queixo de Piggy, que caiu como uma massa.
★
— Que motivos o levaram a suspeitar de Piggy, sheriff? — perguntaram-lhe pouco depois.
— Bom, eu não tinha a certeza de que fora ele. — respondeu o sheriff,— Acusei-o para ver a sua reacção e ele desmascarou-se. É claro que, Piggy estava incluído no número dos suspeitos do crime. Odiava Doc e, se este morresse, seria ele o herdeiro. Foi então que me ocorreu que o sinal deixado por Doc à hora da morte, se parecia com o rabo de um porco. Doc não sabia escrever e tinha sido esta a única maneira de revelar a identidade do seu assassino: o «Porquinho».
— Mas, sheriff, não teria sido mais lógico suspeitar, antes, do «Faca de Mato»?
— Não creio. — respondeu sorrindo o sheriff.— É que desde ontem à noite que o «Faca de Mato» se encontra detido por não ter querido pagar uma multa por excesso de velocidade. Como vêem, nunca poderia inclui-lo na lista dos suspeitos!
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